Sobre alguns filmes de Rob Rombout
por José Bogalheiro
José Bogalheiro é Director do Departamento de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa.
Como parte da retrospectiva de Rob Rombout, outubro de 2016, organizada por Guimarães Cinema Som, e como parte do Festival Internacional de Cinema de Guimarães, Guimarães, Portugal
Rob Rombout é cineasta e professor. Documentarista e conferencista. Nasceu em Amsterdão. Vive há largos anos em Bruxelas. Cruza os continentes a filmar e a ensinar a fazer filmes. Nos títulos da sua já muito extensa obra de documentarista há uma recorrência que, apontando uma origem – “no começo havia um nome: Amsterdão” – se constituiu como um motivo maior das suas expedições cinematográficas, pois como também afirma, para si, “antes de mais, Amsterdão é uma imagem”.
« Rob Rombout escolheu fazer filmes para dar um nome às coisas. »
Amsterdam via Amsterdam torna-se, por isso, um título emblemático, não só por o filme ter duas versões: uma curta-metragem (1997, 40’), designada de obra em progresso, que é apresentada como preparatória da versão definitiva e de longametragem (2004, 80’), mas por que o mesmo lança a questão da via insistentemente procurada por alguém que para dar nome às coisas escolheu fazer filmes. Que não se possa ir directamente a Amsterdão, mas apenas via Amsterdão, é uma boa maneira de enunciar aquilo que, servindo-nos de palavras do próprio Rob Rombout, dir-se-ia serem os dois traços essenciais do seu método de trabalho. Na preparação: “espero tanto tempo antes de rodar um filme que quando filmo já sei tudo sobre o assunto”; na rodagem: “é preciso conseguir fazer passar uma ideia própria através dos outros”. Sem nos determos na questão da precedência do nome ou da imagem, em Amsterdam via Amsterdam, retomando os realizadores o rasto da expedição dos antepassados a uma ilha do Antártico e a outra do Ártico, dir-se-ia que são as imagens (as gravuras, as representações) que conduzem ao nome (das coisas). Já perante a disseminação do nome de que Amsterdam Stories USA (2012, 4 x 90’) dá conta, perdida que está a memória da origem desse nome para os habitantes das 16 localidades dos Estados Unidos que ostentam o nome de Amsterdão, cabe aos retratos feitos a partir das suas histórias de vida contrariar o efeito de apagamento provocado pelas imagenscliché. Reservado estará, porventura, para o filme anunciado para 2018, com o título de Amsterdam Black & White, uma última palavra sobre a “representação da realidade” obtida por via de uma composição imaginativa, que é uma outra maneira de designar o trabalho de reconstrução que para Rob Rombout a conceção do documentário desde sempre comportou.
- Rob Rombout, portrait critique
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